Os Perigos da Infantilização do idoso


 

Pense em todas as pessoas famosas, que você admira e que já passaram dos 60. Agora se imagine falando para o Rei do futebol, Pelé (80 anos): “Vamos brincar de bolinha?”. Soa estranho, não?

Quantas vezes já ouvimos a frase: “um idoso volta a ser criança”? A infantilização da pessoa idosa é uma prática comum, as vezes sem intenção, mas que pode causar problemas que vão da perda da autoestima até a depressão. Acompanhe no texto.

E se você estivesse no mesmo ambiente que a Suzana Vieira (78 anos) e se dirigisse a um familiar dela e perguntasse sobre a saúde de Suzana?

Parece exagero, mas esses são exemplos de atos praticados por familiares ou até mesmo profissionais da saúde em relação a idosos. Tirando deles escolhas, opiniões, autonomia e os tratando como crianças.

É quase como se, a maturidade e a capacidade cognitiva de um idoso não coubessem mais na vida adulta, como se a pessoa que chegou a velhice, tivesse o mesmo nível de compreensão de uma criança da primeira infância.

Esse processo de infantilização do idoso faz com que ele se sinta diminuído, que a sua autoestima seja gravemente afetada e por fim, o próprio idoso acaba vendo a si como uma pessoa frágil e incapaz.

Para alguns psicanalistas, a infantilização pode ser considerada como uma fonte de violência, capaz de gerar trauma e conflito, que em conjunto são responsáveis por destruir a autoconfiança e apressar o declínio do idoso. Nas palavras de Eloah Mestieri, psicanalista com experiência em bem-estar na terceira idade: “A infantilização coloca uma barreira entre o idoso e o mundo, como se este estivesse regredindo de importância enquanto sujeito. Isso traz consequências drásticas na saúde física também.”

Exemplos de como ocorre a infantilização do idoso

  • Falar com o idoso usando expressões no diminutivo (comidinha, roupinha, caminha);
  • Conversar apenas com o acompanhante ou como se o idoso não estivesse presente;
  • Deixar de incluir o idoso em programas como shows, teatros, festas e viagens em família;
  • Não conversar com a pessoa idosa sobre temas da atualidade;
  • Não considerar as opiniões da pessoa em decisões relacionadas a sua vida, como fazer festa de aniversário ou usar determinados tipos de roupa.

É claro que esse comportamento não tem como intenção prejudicar o idoso, é apenas a ânsia de tratar com carinho e demonstrar respeito e amor com quem tem mais idade, mas é preciso entender o limite entre o desrespeito e o carinho.

É completamente possível ser afetuoso e empático em relação ao idoso sem descaracterizar a identidade e a personalidade da pessoa. Já é bem difícil para o idoso se adaptar às mudanças na rotina impostas pela velhice.

As limitações cognitivas e motoras que envolvem aspectos físicos, psíquicos e sociais por si só já podem ser um gatilho para a depressão. Aliados ao sentimento de impotência por não poder gerir a própria vida, causados pela infantilização, afetam sua autoconfiança.

A infantilização não é saudável para o idoso. Afeta a sua dignidade, saúde física e mental. Instiga a tristeza e a melancolia, que podem se encaminhar para sintomas de depressão, apressar a perda cognitiva, a senilidade e outros problemas.

A única forma de evitar isso é ter equilíbrio, cuidado e bom senso. Não faça pelo idoso o que ele mesmo pode fazer, ouça-o com atenção, respeite as suas opiniões e decisões, insira ele nos programas familiares e estimule a socialização.

A velhice é uma condição que faz parte das nossas vidas, todos irão envelhecer um dia, por isso devemos abandonar essa ideia de regressão e de inabilidade. Mesmo que o idoso necessite de cuidados, ele não deve ser posto em uma posição de passividade.

Recommended Posts